Se Juan Maldacena não fosse um físico, ele acha que teria sido um engenheiro, como seu pai. Quando menino, crescendo em Buenos Aires, ele gostava de ficar com o pai, mexendo na máquina de lavar, no carro ou em outros objetos domésticos, aprendendo “como eles exploravam as leis da física”, como ele vê hoje.
Agora, físico teórico do Instituto de Estudos Avançados (IEA) em Princeton, Nova Jersey, Maldacena é mundialmente famoso em parte por ter escrito o que ainda é um dos artigos mais influentes na teoria das cordas.
Embora os domínios abstratos da física teórica possam parecer muito distantes das porcas e parafusos dos eletrodomésticos pesados, “acho que não é muito diferente”, diz ele. “Construir uma teoria que funciona é como construir uma máquina de lavar que funciona.”
A teoria das cordas tem apenas um risco menor de choque elétrico ou porão inundado.
Quando Maldacena iniciou sua educação universitária na Universidade de Buenos Aires, parecia natural ingressar como estudante de física. “Eu realmente adorei aprender como as leis da física explicam vários aspectos do mundo real”, diz ele.
Depois de dois anos, transferiu-se para o Instituto Balseiro, na cidade de Bariloche, no extremo oeste da Argentina, instituição voltada para a pesquisa que aceita alunos depois de terem cursado os primeiros dois anos em outras instituições. É pequena e fornece diplomas em apenas algumas disciplinas, todas relacionadas à física e engenharia.
Maldacena se formou com o equivalente a um mestrado nos EUA em 1991. Ele debateu com sim mesmo qual deveria ser seu próximo passo: pós-graduação em física ou deixar o mundo acadêmico para trabalhar como engenheiro. Ele era um aluno marcante e adorava a disciplina, mas estava preocupado com a possibilidade de não ter o que é preciso para se tornar um pesquisador de física.
“Gostei muito de assistir às aulas, mas não sabia como era a pesquisa. Ainda era um grande mistério para mim”, diz ele. “No final, decidi correr o risco.”
Ele foi aceito na Universidade de Princeton, onde começou o doutorado naquele outono. Maldacena prosperou em Princeton, onde diz que gostava de ter aulas com alguns dos melhores físicos de partículas em sua área. “Foi maravilhoso ver todas essas pessoas cujos trabalhos eu tinha lido.”
Sua tese de doutorado investigou o comportamento dos buracos negros na teoria das cordas, uma estrutura que une a mecânica quântica e a teoria da relatividade de Einstein, ao descrever as partículas fundamentais como cordas unidimensionais.
A teoria das cordas é uma teoria da gravidade quântica. Então, Maldacena estava extrapolando da escala quântica a uma escala muito, muito maior. “Foi considerado um grande sucesso para a teoria das cordas — o fato de poder descrever os buracos negros, que são um grande desvio do espaço plano. Foi uma verificação de consistência para essa teoria”, diz ele.
O proeminente teórico das cordas Nathan Seiberg estava em licença sabática da Universidade Rutgers no IEA quando conheceu Maldacena, que era, então, estudante pós-graduado em Princeton. Eles foram mais tarde colegas na Rutgers e agora são colegas de novo no IEA.
Seiberg diz que ficou “imensamente impressionado” com Maldacena quando eles se conheceram. “Estava bastante claro desde o primeiro dia que ele era alguém especial — muito, muito especial — e que chegaria ao topo.”
Maldacena é mais conhecido por sua descrição da correspondência anti-de Sitter/teoria do campo conformal. O ponto crucial da correspondência AdS/CFT é que uma teoria da gravidade em um universo é a mesma que a da teoria quântica de campos na fronteira desse universo.
O primeiro artigo de Maldacena descrevendo a ideia, publicado em 1997, tornou-se um dos artigos mais citados na teoria das cordas e na física de alta energia de forma mais ampla. “São resultados que permanecerão fundamentais na física por séculos”, diz Seiberg.
A correspondência teve aplicações interessantes em vários campos, incluindo física nuclear, física da matéria condensada, cosmologia e matemática.
Maldacena se formou em Princeton em 1996. Portanto, sua descoberta em AdS/CFT veio muito cedo em sua carreira, quando poucos acadêmicos se arriscariam a dar uma grande tacada como essa. “Ele não tem medo. Ele é muito ousado”, diz Seiberg. “Ele gosta de atacar as questões mais difíceis, das quais a maioria das pessoas ficaria longe. Ele vai a todo vapor”.
O risco valeu a pena. Maldacena foi contratado como professor associado na Universidade de Harvard logo no primeiro ano de seu pós-doutorado na Rutgers e recebeu a oferta de professor titular dois anos depois. Pouco tempo depois, recebeu oferta de um cargo permanente no IAS e voltou para Nova Jersey.
A clareza de Maldacena se destaca para Seiberg. “Na pesquisa, muitas vezes, ficamos nessa névoa de confusão. E ele tem essa mente clara, vendo através do nevoeiro e sabendo para onde ir”, diz Seiberg.
Seiberg diz que eles trabalharam juntos algumas vezes — e “a alegria da colaboração foi enorme” — mas Maldacena também teve influência sobre ele muito além da coautoria formal. “Muitas vezes, tanto em apresentações oficiais quanto em conversas informais, ele fazia uma pergunta que mudava completamente a direção de minha própria pesquisa”, diz Seiberg.
Quando não está estudando física, Maldacena gosta de fazer caminhadas com sua esposa e três filhos. Ele vê seu trabalho e recreação como dois lados da mesma moeda. “Quando você pensa em problemas de física, está pensando em aspectos muito específicos da natureza”, diz Maldacena. “Quando você faz caminhadas, você aprecia outros aspectos da natureza.”
Além de sua própria pesquisa, Maldacena orientou vários alunos de doutorado e pós-doutorado. “Ele tem um bom senso para identificar talentos”, diz Seiberg. “Seu histórico é incrível.”
Maldacena se lembra de quando não tinha certeza se deveria tentar uma carreira de pesquisador em física e espera que outros alunos em posição semelhante não deixem que esse medo os impeça de tentar. “Talvez, eles descubram que são melhores do que esperavam”, diz ele. “Ou, talvez, eles vão gostar mais do que esperavam.”